sexta-feira, 23 de maio de 2014

Você saber?!?... PORQUE FERNANDO PESSOA FOI CHAMADO "O VIRGEM NEGRA"



por MIres Batista Bender

Considerado o maior poeta de língua portuguesa depois de Luís de Camões, Fernando Pessoa faleceu no ano de 1935, de cólica hepática ou “bloqueio intestinal” – de acordo com seu atestado de óbito – e foi enterrado no jazigo da família, no Cemitério dos Prazeres.
Em 1988, por ocasião do centenário de seu nascimento, os restos mortais foram trasladados para o Mosteiro dos Jerônimos, em Belém, na cidade de Lisboa. É uma justa homenagem ao grande poeta, pois o Mosteiro é considerado patrimônio mundial pela UNESCO e eleito uma das sete maravilhas de Portugal. Lá, Pessoa repousa entre os túmulos de D. Manuel, D. Sebastião, D. Henrique, Vasco da Gama e Luís de Camões.

Um fato curioso marca o traslado dos restos mortais de Fernando Pessoa. Consta que ao abrirem a urna em que estava depositado o corpo do poeta, este teria sido encontrado em perfeito estado de conservação, apenas enegrecido. 


Em 1989, o principal nome do Surrealismo português, Mário Cesariny, escreveu um livro intitulado O virgem negra – Fernando Pessoa explicado às criancinhas naturais e estrangeiras. Segundo depoimento de Claudio Willer, este título faz referência ao episódio da abertura do caixão do poeta e ao descobrimento daquele corpo ainda incorrupto, 53 anos após sua morte.

De teor “complexo”, “esdrúxulo” e “agressivo”, como o definiu o grande crítico e poeta Claudio Willer, o livro de Cesariny oferece grande interesse e pode ser assunto demorado para o nosso tema “curiosidades literárias”, obra de que poderemos tratar em outra ocasião. 


O texto do poeta surrealista possui traços marcantes, que são resaltados por Willer em seus ensaios sobre o livro. Uma dessas marcas aparece no relato de um pseudo depoimento de Fernando Pessoa, depois de morto, opinando sobre as comemorações de seu centenário e o traslado de seus restos mortais: “O Virgem Negra, tal me descobriram/ Cincoenta anos depois,/ Em minha infusão estou. Tombam, deliram/ Em vão quantos seguiram” (excerto do ensaio de Claudio Willer “Alguns comentários sobre O virgem negra – Fernando Pessoa explicado às criancinhas naturais e estrangeiras” – disponível em http://triplov.com).
 
Este é apenas um dos muitos mistérios que envolvem a vida e obra do poeta dos heterônimos, cujo trabalho ainda está sendo desvendado nos mais de vinte e sete mil documentos encontrados na mítica arca que o poeta conservava trancada em seus aposentos, e que guardava o tratado de uma existência poética em forma de versos, ensaios e reflexões sobre a vida e a estética, somente aberta depois de sua morte.





* Mires Batista Bender, doutora em Letras pela PUCRS, acredita que as palavras são magia e fez delas seu ofício. Professora de línguas e Literatura criou o primeiro fã-clube de escritor para homenagear a união entre seus maiores prazeres: pessoas e poesia. Interessada e curiosa por todos os temas que fazem fluir o poético, conversa sobre eles nesta coluna...

3 comentários:

  1. É ludico imaginar que para Fernando Pessoa as letras foram uma forma de embalsamar, legando o nome do poeta, como também o próprio corpo à posteridade.

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  2. Que pensamento mágico, Jader! Nada como um poeta pensando outro.

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  3. Que dupla! Quando o Jader vai fazer um texto em co-autoria com a colunista?!

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